Thursday, April 02, 2009

2º parágrafo

Era cinco horas da manhã de um dia de setembro ela acorda de súbito, levanta-se em um salto e corre para o chuveiro. São os primeiros dias da primavera e os dias já começavam a raiar mais cedo, mas o banho é gelado, mesmo com o aquecedor funcionando em boas condições e no inverno gelado o banho era com água fria também. Já não interessava mais a que horas o dia iria raiar ou coisas deste tipo, dentro de quatro horas ela deveria estar mais uma vez dentro de um avião em uma viagem cansativa num vôo de aproximadamente 20 horas, onde ela iria atravessar o Oceano Pacifico indo contra o fuso horário. O banho foi rápido, escovou os dentes, vestiu-se e colocou os chinelos dentro de uma das malas. Alice queria estar em casa, mais que tudo nesta vida, era o único sentimento que tinha. Havia passado os três piores meses de sua vida, perto de pessoas maravilhosas, que lutavam por coisas banais, como a liberdade de serem quem realmente são, longe de tudo que mais amavam, criando novos vínculos e transformando os amigos e conhecidos em sua família. Da outra vez bebeu todas antes de partir. Dessa, teve que tomar uma atitude energética perante as circunstâncias. Mas não gritou como era de costume, apenas disse “se não vai pagar o que me deve, por favor, vá embora!” e foi assim que resolveu o seu problema. Perdeu duas centenas de dólares, mas jamais iria deixar um problema para trás. A outra menina ainda tentou rebater, provocar das maneiras mais irônicas possíveis, mas ela manteve-se sentada dentro do closet vazio. Despedir-se da “família” sempre foi a parte mais difícil, mas ela tinha muita certeza do que queria e do rumo que tomaria de sua vida assim que desembarca-se em no Brasil. Talvez o coração dela não tivesse esperança alguma, é verdade, mas sentia segurança assim como nunca tivera antes. Acreditava na sorte da vida! E pensava que aquele era o seu estado normal, que conter-se perante o mundo e acreditar era o seu novo posicionamento perante o mundo. Tinha agora ambições que se esquecera por algum tempo. Queria uma família. Queria um amor. Queria uma carreira de sucesso. Queria estudar mais e mais. Na verdade apenas queria os seus novos velhos planos de volta. Eram sete e meia da manhã, ela já havia rido muito com o motorista da sua shuttle que a levará até o aeroporto, um senhor italiano, imigrante, muito bem humorado. Oito horas, já havia feito o check in e passara pela imigração, sentou-se para esperar, olhou para o telefone e não conseguiu resistir, telefonou mais uma vez, mas ninguém atendeu. Ela respirou fundo e pensou em tudo o queria dizer se atendessem do outro lado atendido. Mas acabou por engolir cada palavra em pensamento. Pois, achou que não seriam as melhores. Aquelas palavras era parte de uma Alice que não habitava mais aquele corpo, eram ásperas e duras. Agora ela tinha medo de ferir, um medo que nunca tivera. (http://www.sweetchilisouce.blogspot.com/)

1 comment:

Mel said...

Que lindooo...
Me emocionei lendo.
Tudo que tu escreve também, passa muita verdade.
Bjussss